terça-feira, 15 de abril de 2014

Cargos e funções: o que os jornalistas fazem nas redações e quais os termos usados - Parte IV: O Editor-executivo e o Editor-chefe

Num telejornal, existe uma parte extremamente importante, além de - me julguem - fascinante fazer. A escalada. É como aquele momento, em que você chega naquele restaurante chique (após ter juntado o mês todo o dinheiro pra ir) e o chef lhe oferece o cardápio da casa. O que ele tem de melhor a oferecer para te conquistar. É disso que se trata a escalada. É a partir dela que o telespectador vai ficar e querer saber mais sobre os assuntos, ou vai pegar o controle remoto e mudar de canal. 

É muito importante saber escolher quais assuntos elencar. Quais merecem um destaque especial nos primeiros - e decisivos - minutos que abrem o telejornal e fazem com que a pessoa do outro lado da telinha fique ligada pra saber o que seu jornal vai informar. Quem escolhe esses assuntos é o editor-chefe. E é a partir dali que vai ser montado o espelho.

"A montagem de um espelho do Jornal Nacional é uma tarefa imensamente trabalhosa - e intensamente prazerosa. Uma atividade que consome do autor todo o seu conhecimento do telejornalismo e que o obriga a refletir sobre todos os temas. É inevitável que seja assim - e altamente desafiador."  
2009. BONNER, William. Jornal Nacional, Modo de Fazer. 

Assim como o jornalismo, não se faz um telejornal sozinho. Você depende de jornalistas, equipamentos técnicos, profissionais de televisão, de vídeo, de edição de imagem etc. Parece até estranho eu falar disso tudo, mas a forma como se monta um telejornal e como ele é apresentado ao público faz diferença. O aspecto televisão nos remete ao visual e ao som. Portanto, até mesmo a trilha do jornal faz a diferença.

A maneira como a escalada é feita, o tempo, a quantidade de assuntos, as trilhas e a maneira como os jornalistas se portam influencia diretamente na nossa decisão de assistir ou não aquele telejornal. Cabe então, ao Editor-Chefe escolher esses assuntos e montá-los no Espelho (ver post sobre espelho). O Editor-Executivo é quem geralmente escreve as escaladas a partir dos assuntos escolhidos pelo Editor-Chefe. Geralmente porque o telejornal é um reflexo de toda uma equipe e também do comportamento do Editor-Chefe, que pode ser mais ou menos vaidoso, a ponto de querer escrever a escalada também. 

Por isso, é importante ressaltar que a maneira como o cardápio é apresentado ao público depende diretamente desses dois profissionais, pois toda a carga de conhecimento em telejornalismo vai fazer diferença na hora de elencar os assuntos e montar a escalada.

Em tempos em que o tempo corre rápido, que as pessoas estão cada vez mais desatentas e com mais opções de escolha, conseguir levar informação ao público com qualidade, precisão e de maneira atrativa é um desafio diário para qualquer jornalista. Saber juntar todos esses elementos é difícil, mas com persistência, determinação e bastante profissionalismo, é bem possível.

E para esse post não ficar maior e sem algo multimídia, já que falamos de televisão, deixo aqui alguns exemplos de escaladas. Note as diferenças e fique a vontade para comentar.

Jornal Nacional, Rede Globo, 02/12/2013.
A escalada é feita com as chamadas, algumas com imagens e geralmente um vinheta curta. Nesse caso excepcional, o "JN" começou com a trilha longa porque comemorava o início da exibição em alta definição em todo o jornalismo da TV Globo.
Jornal da Globo, Rede Globo, 08/10/2013. Nesse caso, o jornal começa com um editorial do apresentador William Waack e os textos da chamada vêm depois, narrados pela Cristiane. 
Jornal do SBT Manhã, SBT, 10/01/2013. No jornal do SBT, a escalada é mais longa, com muitas imagens e uma trilha aliada a agilidade do jornal matutino. 
Jornal da Tribuna 1ª Edição, TV Tribuna/Rede Globo, 23/01/2014. Nos telejornais locais TV Globo, há um padrão de vinheta, que muda de acordo com o nome do telejornal, seja ele "Jornal da Tribuna" (TV Tribuna, afiliada da Globo no litoral paulista), SPTV (capital), RJTV (Rio), Jornal da Anhanguera (TV Anhanguera, Goiás) etc.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Cargos e funções: o que os jornalistas fazem nas redações e quais os termos usados - Parte III: Edição de Texto

Depois de chegar às redações de telejornalismo, serem anotados os detalhes sobre o ocorrido e o repórter ir à rua "fazer" a matéria, é chegada a hora de transformar tudo aquilo num VT (matéria, reportagem). É nesse momento que entra o papel do Editor de Textos. 

O Editor é o jornalista responsável por montar esse quebra-cabeças junto ao repórter. É ele quem vai escrever o "OFF" (texto da reportagem) junto com o repórter. Quando uma reportagem está pronta para ir ao ar, é do editor a responsabilidade pelo o que foi noticiado. Por que? Porque cabe ao editor a tarefa de transcrever o que foi apurado e avaliar quais as informações mais relevantes para a matéria. 

Esse profissional tem que aliar a capacidade de síntese, da classificação e um olhar diferente de todos os envolvidos, juntando seu profissionalismo de manter respeito no trabalho dos outros jornalistas ao seu filtro construído em sua carreira. 

O editor precisa olhar cada reportagem de maneira objetiva, sem deixar de lado a sensibilidade pelo o que está escrevendo e o respeito às "personagens" das reportagens. O que foi dito precisa ser filtrado por conta do tempo de televisão, mas sem deixar que isso prejudique o conteúdo a ser passado ao telespectador. Além disso, é necessário que o editor de texto em televisão tenha certo gosto pelo audiovisual, pois como "tv é imagem", tem-se que levar em conta as melhores imagens relacionadas ao conteúdo. O trabalho árduo do editor depende das informações que ele obtém junto aos repórteres, produtores, apuradores e chefes de reportagem porque é com base nisto que ele vai justificar suas escolhas e a maneira como aquilo foi transmitido.

Caso a informação diga 10 e não 12 por cento, é do editor que o editor-chefe, o executivo e até mesmo os chefes de redação cobrarão. Por isso a importância. 
Indispensável também é o senso crítico e ceticismo que norteiam os jornalistas, porque, atrelado à sua experiência, caberá a ele ajudar os produtores e repórteres a direcionar os rumos da matéria. 

Os editores pensam também nos complementos à matéria, dão os rumos de acordo com o perfil do jornal e sugerem até mesmo as melhores imagens. Junto aos editores de imagem, vão pensar nos modos de contar a história, as melhores trilhas (caso haja), as melhores imagens e o melhor modo de transformar todo aquele mar de informações num texto conciso e completo de poucos minutos. 

Mari e Lú, com certeza duas das melhores editoras que existem e com quem tive o prazer de trabalhar./ Créditos: divulgação, facebook
 O trabalho de pensar no que vai ser noticiado, montar, casar imagens e texto é um trabalho que me fascina. Poder juntar todo o trabalho de tanta gente e deixar a matéria bonita, suave e contextualizada, além de fazer com que o telespectador entenda o que deveria ser feito é significativo para qualquer jornalista.

sábado, 30 de novembro de 2013

Cargos e funções: o que os jornalistas fazem nas redações e quais os termos usados - Parte II: Chefia de Reportagem e Pauta/Produção

No outro primeiro texto sobre cargos e funções (clique aqui), expliquei como funciona a rádio-escuta/apuração dentro das redações de televisão. Pois bem, neste ou explicar o que é a Chefia de Reportagem e a Pauta/Produção (bullying! - explico).

Chefia de Reportagem: A chefia de reportagem é a área da redação responsável por gerenciar as pautas, os repórteres na rua e também por cuidar das notícias factuais. É conhecida entre os jornalistas do meio como "central de resolução de problemas", e o nome faz jus ao que ela representa. É dela a responsabilidade de passar aos repórteres as pautas feitas pela produção, cuidar de agendas, prestar atenção no "factual", coordenar links, cuidar da escala de reportagem e também é dela a decisão, junto ao editor-chefe do telejornal, de substituir uma matéria pré-produzida pela pauta/produção por alguma notícia de muito destaque quando não há repórteres suficientes para cobrir tal fato.

A tarefa de coordenar essas ações não é fácil e exige da pessoa que vá desempenhar esta função certo gosto por agitação. A primeira coisa que um chefe de reportagem faz quando chega na redação, é ler e se atualizar dos fatos ocorridos fora de seu turno de trabalho. 

Nesse momento, é de extrema importância a relação com a rádio-escuta. Esta geralmente faz um relatório do que aconteceu com mais destaque e passa para a chefia. Esse relatório é analisado pela Chefia de Reportagem e os fatos são passados junto com os editores executivos dos telejornais, que conversam com o editor-chefe e ele escolhe o que será noticiado no jornal.

As coberturas ao vivo e as notícias mais "quentinhas" também são de responsabilidade da chefia de reportagem. Como este é o departamento que supervisiona a escuta, é dela que será cobrado caso haja desencontro de informações. 

É a chefia quem organiza a distribuição de equipamentos de reportagem (câmeras, microfones, aparelhos de áudio) junto à coordenação de equipamentos técnicos (na Globo, esse departamento chama-se Gerop e no SBT, Operações Externas).

Mesa da Chefia de Reportagem da TV Globo nos anos 70. O telefone, os jornais e um mapa da cidade. / Créditos: divulgação na internet.
Pauta/Produção: A pauta, ou produção, é o departamento que pensa no jornal do dia seguinte. É uma função que exige do jornalista um olhar crítico do mundo ao seu redor, porque cabe a ele trazer notícias diferentes e curiosas ao jornal. Em jornal impresso, o próprio jornalista é quem pensa na matéria do dia seguinte, apura, vai às ruas e grava a matéria. Em telejornalismo, geralmente a pauta é quem pensa na matéria do dia seguinte, faz a apuração e a pesquisa e o repórter, a partir dessas coordenadas, faz a matéria (obviamente os repórteres também pensam e fazem suas próprias matérias, mas cabe a pauta "pautar" os repórteres e pensar nas reportagens que irão compor o jornal do dia seguinte). 

A pauta de uma matéria de televisão é composta geralmente por três itens: a proposta, onde, em poucas linhas, o produtor descreve o que será a matéria - "vamos abordar o aumento da gasolina pelo país, seus impactos para a população e também para os empresários donos de postos de gasolina. Faremos um panorama do aumento anual da gasolina e explicamos o porquê do aumento nesse momento." Depois, vêm o roteiro, onde é descrito quem serão os entrevistamos e brevemente sobre o que eles irão falar - 1) posto de gasolina x, no endereço x, no horário y. O entrevistado fala sobre os impactos do aumento no seu posto; 2) especialista no assunto, data, horário e local, etc. Em último lugar e não menos importante, os dados. De onde partiu a matéria e as informações relativas ao assunto, com datas e fontes. Os dados devem ser de fontes oficiais, pois serão usados na composição da matéria.

Esse setor sofre um certo bullying da redação porque, após a rádio-escuta, geralmente são os focas do jornalismo é quem compõem essa área da redação e, quando não dá certo na rua, a culpa é da pauta. Essa parte merece certa atenção, porque há repórteres e repórteres nas redações. Existem repórteres que, por conta dessa certa comodidade, com  o tempo perdem o costume de apurar as informações por conta própria. Por outro lado, há produtores que não apuram muito bem as pautas, assim, quando os repórteres vão para a rua fazer a matéria, aquilo não era bem o que estava escrito na pauta. Em todo caso, vale a atenção a estes dois aspectos.
Pauta do extinto "SBT Notícias". / Créditos: Júnior Batista

Cargos e funções: o que os jornalistas fazem nas redações e quais os termos usados - Parte I: Rádio-escuta/Apuração

Nessa primeira parte, vou explicar as funções exercidas pelos jornalistas dentro da redação. Quem está estudando jornalismo na faculdade deve ter aprendido um pouco, ou tudo disso, quem é curioso e não tem a mínima ideia poderá saber um pouco mais. Até mesmo profissionais que nunca trabalharam dentro de uma emissora de televisão poderão saber como funciona o trabalho dos jornalistas.

Como eu disse antes, num telejornal muitas pessoas dependem das outras. E não é diferente dentro da redação. Todos os jornalistas têm que se conversar entre si e passar as informações. Basicamente, se comunicar muito. 

Dentro das redações, há vários núcleos e cada um deles é responsável por um tipo de coisa. Vou começar falando sobre um dos setores mais importantes dentro de uma redação: a rádio-escuta.

Rádio-escuta/Apuração: Este é um dos setores mais antigos dentro das redações de telejornais. Antes da internet, os jornalistas "apuradores" registravam os acontecimentos e os passavam direto para a chefia de reportagem, responsável pelos repórteres. Nas redações mais antigas, havia um aparelho onde se ouvia a frequência dos rádios da polícia militar. Quando, literalmente, ouviam alguma ocorrência, ligavam para a polícia para colher mais detalhes sobre o caso, registravam a ocorrência em notas e passavam para os outros setores dentro da redação. 

Além de ouvir as frequências policiais, há também no setor da rádio-escuta, vários televisores ligados nos canais das principais emissoras de televisão. Os "apuradores" assistem os telejornais de outras emissoras e ouvem as rádios de notícias. 

Atualmente, com a internet, este trabalho se tornou mais fácil, porém maior, porque como as informações chegam de maneira espantosamente rápidas e a credibilidade caiu. Embora a internet já seja considerada um meio importante de informação, a facilidade com que as pessoas se tornaram produtoras de conteúdo fez com que o trabalho do jornalista para criar credibilidade da sua informação também ficou maior.

Hoje, as redes sociais ajudam, sim, a monitorar ações, informações, público, manifestações... Voltando as ações práticas, na rádio-escuta a rotina do jornalistas se resume a:

- Fazer rondas: A ronda é uma sequência de ligações para o departamento de comunicação de diversos órgãos (públicos e privados), como a Polícia Militar, os Bombeiros, Concessionárias de rodovias, Instituto Médico Legal (IML), Polícia Civil, Hospitais, órgãos de trânsito, do tempo... Tudo isso é feito diversas vezes por dia e em cada lugar
buscamos um tipo de informação: condições de rodovias, estradas, avenidas - congestionamentos, acidentes, paralisações, interdições, etc.; A mesma coisa ocorrências da polícia - roubos, assaltos, investigações, etc.; Tudo é feito por telefone e registrado num sistema dentro das redações: algumas emissoras utilizam o program ENPS, enquanto outras utilizam o americano INEWS. Nesse sistema, as informações "postadas" pelos apuradores ficam disponíveis para todos na redação e podem ser consultadas pelo sistema por todos os jornalistas. As informações colocadas no sistema pelos apuradores são consideradas válidas, checadas e prontas para serem publicadas nos telejornais. 


- Registro no sistema: A partir das ligações, os apuradores fazem notas do que apuraram e as colocam no ENPS/INEWS. É importante que as notas tenham uma série de dados para que os outros jornalistas saibam de onde partiu essa informação. Cada nota contém: a fonte da informação (órgão público, assessoria, fonte de confiança, etc), a hora que foi checada, por quem foi checado e os contatos da fonte.

- Leitura de jornais e acompanhamento das rádios e telejornais de outros veículos: Preceito básico de todo jornalista, é preciso ler e se informar. Para os apuradores, isso é ainda mais cobrado. É fundamental que ele acompanhe telejornais, ouça rádios de notícias e leia jornais impressos.

- Registro de outros telejornais: Os apuradores também registram o que foi passado nos telejornais de outras emissoras detalhadamente, bloco a bloco. Assuntos exclusivos de outras emissoras merecem destaque - afinal, não se engane, todas as emissoras "vigiam" o que o concorrente está passando.

A rádio-escuta é o primeiro lugar onde as notícias do dia chegam. Agora falando por experiência própria, eu trabalhava na rádio-escuta na época em que foi achado o corpo do empresário Marcos Matsunaga. Foi durante uma ronda que descobrimos um caso que repercutiu no país inteiro. Também durante meu trabalho na escuta descobrimos o caso de um senhor que atirou em uma família inteira num condomínio de luxo em Alphaville. Eu sei, são casos mórbidos, mas é importante para ilustrar como o trabalho da escuta é importante. Nem sempre são bons assuntos, então é bom que o jornalista que vai trabalhar com isso já saiba.

É importante citar, também, que é na rádio-escuta, geralmente, que os chamados "focas" trabalham. Focas são os jornalistas recém-formados e trabalhar na apuração é fundamental para que saibam como fazerem uma apuração bem feita, checada e objetiva.

Como funciona um telejornal?

A primeira coisa que você precisa saber sobre um telejornal é que ele é feito por dezenas de profissionais. Todos os profissionais, desde editores, repórteres, pauteiros, chefes de reportagem e apresentadores (explico cada função nos textos: cargos e funções, veja ao lado) dependem um do outro para que tudo funcione no final e o jornal vá ao ar como o previsto.

Além dos jornalistas, é claro, um telejornal depende de todo um aparato técnico e logístico para que ele chegue na sua casa lindo e casado (ou não! rs). Técnicos de áudio, editores de imagem, cabomans, diretores de tv, operadores de tp, técnicos em informática e operadores de câmera trabalham juntos para que no final tudo dê certo.

A comunicação, aquela que os estudantes de jornalismo aprendem na faculdade, é (ou pelo menos deve ser) levada a sério, pois basta um erro do operador de TP e o jornalista lê a informação errada; um erro do operador de áudio e o apresentador não ouve as orientações do editor-chefe no Switcher. Um erro de gravação e o VT não entra no momento certo ou um coordenador de jornal desatento pode não mudar a ordem dos vts como solicitado pelo editor-chefe e o apresentador vai chamar a matéria errada para ir ao ar.

Para isso, explicarei aqui o que significa cada uma dessas particularidades para que você, leitor ou estudante, até mesmo profissional, saibam do que estou falando.

Primeiro, vamos aos termos e o que eles significam:

TP (ou tele-prompter): Esse objeto é de extrema importância para o apresentador do telejornal. É ali que ficam os textos escritos pelos repórteres, editados pelos editores de texto, corrigidos pelo editor-executivo e aprovados pelo editor-chefe. É o que o apresentador do telejornal vai ler. São, literalmente, as notícias. É esse aparelho que mostra o que vem a seguir. 
Imagem: divulgação na internet. / A apresentadora pronta para entrar ao vivo no telejornal orienta-se pelo TP (teleprompter) à sua frente.
Como vocês podem ver na imagem acima, uma "caixa" formada por duas telas mostram o texto para que a apresentadora leia. E aí vocês devem se perguntar, "mas como a apresentadora lê o texto e em casa eu não percebo que ela está lendo"? ou "onde está a câmera"? Simples, está atrás. É que essa câmera tem um esquema especial de espelhos. Vêem que há dois compartimentos? Pois é, o de baixo é onde está, literalmente, o texto escrito e o de cima reflete ele. A câmera, por sua vez, está entre esses espelhos e filma apenas a imagem da apresentadora, dando a sensação de que o apresentador tem uma super memória para gravar tudo o que ele tem que falar.

Switcher: O switcher é de onde é transmitido o telejornal. Imaginem uma sala cheia de televisores, aparelhos de som, transmissores, gravadores... É uma verdadeira bagunça quando o jornal vai ao ar. Tentem pensar assim: você está num local com vários televisores, todos ligados em vários canais, enquanto você ouve os televisores dos canais e suas respectivas programações, tem o apresentador do telejornal (ou apresentadores) falando com o editor-chefe por transmissores, o coordenador do jornal gritando (literalmente!) as próximas matérias e mais uma dezenas de profissionais entre diretores de tv, operadores de TP, técnicos de som, de imagem. Tipo isso:

- Editor-chefe: "Gabi, (coordenadora do telejornal), sobe o vt 30 e derruba o 21". 
- Gabi: "lauda 30 no lugar da 21!!"
- programação do canal 1: "agora vamos ao vivo até à Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, onde um incêndio destrói parte do Memorial da América Latina".
- programação do canal 2: "começa agora, o jornal da Band".
- programação do canal 3: "mais notícias, no jornal da Record, tenham todos uma boa noite"
- Operador de TP: "Neila, dá pra ler assim?"
- Editor-Chefe: "Essa rua fica na zona leste!! Depois disso, vamos com o helicóptero para a zona norte, onde há um assalto com reféns."
- Apresentadora: "Essa rua que eu tô mostrando pra vocês fica na Vila Matilde, zona leste de São Paulo. Agora vamos até a zona norte onde tem um assalto com reféns, é isso mesmo, Mônica?"
- Repórter do helicóptero: "É isso mesmo..." 

Ficaram meio perdidos? Pois é, é bem assim, todos os dias, durante o telejornal. Adrenalina pura.
Switcher durante o "SBT Notícias", crédito: Júnior Batista / Aqui a Gabi, coordenadora do telejornal e no computador o espelho do telejornal. Ali na frente, o diretor de TV e ao lado o Editor-Chefe.
Deu pra ter uma noção? Ali estão todos os televisores e os aparelhos que fazem toda a comunicação entre a apresentadora, os técnicos e ainda os repórteres na rua.

No estúdio, a apresentadora fica com as laudas nas mãos, lê o teleprompter, se comunica com o Editor-chefe e com os repórteres nos links ao vivo, além de passar isso tudo pra você com a maior naturalidade possível. Achou bizarro? Pois é, e tem gente, como eu, que ama isso tudo.

Neila Medeiros, durante o antigo "SBT Notícias".
Na imagem, vocês podem ver a apresentadora com a lauda (textos) nas mãos, os operadores de câmera e os teleprompters. 

No estúdio, a apresentadora tem ainda um televisor para acompanhar as reportagens (dá pra ver um pedaço dele no canto esquerdo da foto) e se ver. Dentro do estúdio, em alguns casos, como neste em que não há bancada, a apresentadora leva alguém (geralmente um estagiário) para segurar os textos para ela, ajudá-la durante o telejornal, pegar água... rs 
Todos os dias, é basicamente assim que tecnicamente as coisas funcionam. 

Apresentação

Como é a vida numa redação de tv?
Quando me perguntaram isso, pensei: poxa, é simples. Se você é estudante de jornalismo, você consegue imaginar como é uma redação na televisão. Será? Quando tive esta aula na faculdade, era um dos únicos que tinham uma ideia mais ou menos certa do que realmente é trabalhar num telejornal. Aliás, não só o telejornal, mas fazer jornalismo dentro da televisão.
Até hoje, o jornalismo, mesmo com uma desvalorização enorme no mercado, é muito procurado. É o um dos cursos mais procurados da Universidade de São Paulo (USP) e sonho de milhares, milhões de jovens no Brasil inteiro. Foi aí que pensei: porque não compartilhar minhas experiências? É isso que pretendo fazer aqui. Explicar os termos, o know how de um dia-a-dia na redação, o que é montar um jornal do começo ao fim. Mais do que isso, também quero compartilhar livros, textos e outros materiais que possam ajudar não só estudantes de jornalismo, mas também os curiosos que têm vontade de saber o que é o bastidor de um jornal.
Fica aqui, também, o convite para jornalistas e estudantes de jornalismo de compartilhar suas experiências e curiosidades com o mundo. 

"Fazer jornalismo é mais do que divulgar notícias, é ajudar a sociedade a se educar e crescer" - Heródoto Barbeiro.